Conduta e Ética da Doula
Mara Freire
Atuar como doula é algo que requer
muita responsabilidade, amor e respeito ao mais profundo sentimento da mulher.
A doula também muitas vezes acompanha
e orienta no pós-parto e aleitamento, nos cuidados com o recém-nascido; às
vezes, nas próprias tarefas domésticas ou apenas só ouvindo o desabafo da
mulher. A doula dá apoio e acolhimento, evitando assim que muitas mulheres
tenham depressão pós-parto, situação que muitas vezes torna-se um agravante na
vida não só delas como de toda a sua família, trazendo muito sofrimento a
todos, principalmente ao bebê.
A doula deve ter convicção de tudo o
que é preciso fazer, para que neste momento tão importante da vida de uma
mulher, ela possa passar segurança, firmeza e muito carinho.
É necessário que a doula estude
bastante e tenha conhecimento de como agir em várias situações, inclusive em
casos de emergência, providenciando ajuda especializada, para evitar assim que
a vida e saúde dessa gestante e seu bebê sejam postas em risco.
Muitos obstáculos, às vezes, impedem
o trabalho de uma doula, entretanto quando esse trabalho é feito com firmeza e
dedicação certamente consegue superá-los. Assim, após os vários partos em que
auxiliei, dos vários bebês que recebi em meus braços no momento grandioso do
nascimento, tenho a certeza que minha missão neste mundo realmente é ser o que
sou... “DOULA”! E assim para cada sorriso de uma mãe com seu bebê no peito,
agradecidas, realizadas como mulher e como mãe, plenas em terem vivido sua
gestação e parto de forma digna e humanizada, eu agradeço à Deus por ter me
dado este dom que contribuiu para este resultado.
Após 25 anos de experiência em acompanhamento
de partos, posso dizer que não há uma regra a seguir, não há formulas. O melhor
caminho é sempre o diálogo franco e aberto. A gestante deve expressar seus
desejos e sentimentos que precisam ser respeitados e acatados, jamais
contestados.
Cabe à doula ser o mais “invisível”
possível, cumprindo seu papel de estar ao lado, apoiar, acolher, sem interferir
nas decisões de sua cliente ou da equipe multidisciplinar (médico, parteiras,
enfermeiras, outras). É importante deixar a natureza da mulher falar e agir. O
corpo com seu instinto é a melhor voz a ser seguida.
Contudo, há vários estudos que
comprovam que certas posições proporcionam vários benefícios à mulher e ao
bebê. Assim sendo, cabe-nos orientar e proporcionar informações durante a gestação
ou mesmo na hora do parto, ensinando algumas técnicas e posições que podem
contribuir para um melhor bem estar (físico, emocional e fisiológico), para um
melhor posicionamento do bebê. O objetivo é permitir que o corpo reaja de uma
forma positiva, proporcionando um parto saudável e tranquilo.
Nossa missão é de orientar e mostrar
possíveis caminhos a serem seguidos, mas a decisão final cabe somente à mulher.
A posição da doula é a de ouvir, mais do que falar. Ele deve tranquilizar mais
do que conflitar.
Hoje existem muitas técnicas de
preparo para a gestação e parto, através de exercícios físicos, respiratórios e
massagens (yoga, pilates, hidroginástica e outros). Junto ao condicionamento
psicológico e emocional, esta preparação dá à gestante condição para o
conhecimento de seu corpo, do funcionamento de seu organismo, do processo
fisiológico e das mudanças emocionais e relacionais que possam ocorrer. Com
isso, melhora a postura, há mais disposição para enfrentar os desafios que
possam vir a surgir.
Condutas
Existem algumas condutas a serem
seguidas pelas doulas, de modo que ela saiba o que pode fazer e o que não deve
fazer com sua cliente e equipe multidisciplinar. Incluem também suas
responsabilidades para com a gestante que a contrata.
Devemos sempre agir:
• Com muita
responsabilidade, comparecendo sempre nas visitas marcadas, informando a
grávida com indicações de leituras, sites, profissionais adequados a qualquer
situação anormal, que não seja da competência do atendimento da doula;
• Propor um plano de
parto para que assim já se estabeleça uma parceria e um melhor preparo sobre
como agir na hora do parto;
• Se possível estabelecer
um contato com o profissional responsável pelo parto, para que esse possa já se
familiarizar com a doula e assim estabelecer um bom convívio;
• Se colocar á disposição
da família e da equipe médica, para qualquer necessidade seja de comunicação ou
outras;
• Sempre estar ao lado da
gestante para tudo que ela precisar, apoiando-a em tudo e em todas suas
decisões.
Nunca devemos fazer:
• Realizar tarefas medicas como aferir pressão arterial,
verificar os batimentos cardíacos fetais, toques vaginais e outros;
• Tomar decisões pela cliente, podendo sim coletar
informações necessárias para o auxilio da cliente, para que essa possa fazer
suas escolhas com consciência. Poderá também lembrá-la quanto ao seu
plano de parto, se houver divergências;
• Jamais falar com a equipe médica em nome da cliente ou no
lugar dela, com relação ao que diz respeito á decisões que estejam sendo
tomadas ou á possíveis outras;
• Nunca tomar atitudes por conta própria, ou intervir em
procedimentos e decisões seja de sua cliente, família ou equipe de saúde.
Falha no oferecimento de serviços:
• A doula deverá fazer todo possível para atender ao parto. (Entretanto
pode acontecer disso ser impossível, em geral devido à rapidez do parto). Nesse
caso, a falha do atendimento é de responsabilidade da doula e não deverá
ser feita nenhuma cobrança monetária dos seus serviços. Caso tenha recebido
prévio adiantamento, este deverá ser reembolsado.
• Por outro lado, se devido a circunstancias que fuja ao
controle da doula ou se por um acaso a cliente falhe ao localizá-la a tempo, a
parcela já paga não deverá ser devolvida e nada mais deverá ser pago.
Ética
Como em qualquer outra profissão as doulas devem agir com ética
profissional sempre. Essa conduta é seguida em todos os países.
Podemos considerá-las como:
• Integridade pessoal, moral e profissional, mostrando-se
uma pessoa idônea;
• Dedicar-se em constante aperfeiçoamento de seus estudos,
mantendo-se sempre informada e com isso mantendo sua qualidade de atendimento
profissional e no exercício de suas funções;
• Priorizar os interesses de sua cliente, respeitando sempre
suas possíveis escolhas, prestando toda assistência de forma que sua
experiência de parto seja a melhor possível;
• Respeitar sempre a privacidade de suas clientes, agindo
sempre de forma sigilosa em relação a qualquer informação ou conversa que
tenham durante seu acompanhamento;
• Orientar o encaminhamento de sua cliente á serviços ou
profissionais adequados em possível situação que estejam fora de sua área de
atuação;
• Sempre manter a seriedade e cumprir com todos os
compromissos firmados com sua cliente;
• Doulas profissionais devem oferecer honorários justos e
ponderados, jamais deixando de cumprir com seu papel de apoiar e ajudar, caso
surja alguma dificuldade econômica de sua cliente. Estabelecendo uma
forma que essa possa cumprir com o acordo feito.
• Deve haver respeito no tratamento com suas colegas de
trabalho, jamais invadindo suas clientelas ou difamando seus serviços
profissionais;
• Respeitar os outros profissionais multidisciplinares
envolvidos no parto, não invadir seu espaço de atuação e muito menos
criticá-los quanto suas atuações;
• Deve ter consciência no que compete à exatidão da
atuação e a partir daí manter a integridade da profissão;
• Se prestar serviço voluntário, que o faça com amor e por
amor sem esperar ou cobrar retorno seja financeiro ou reconhecimento de
qualquer espécie;
• Objetivar sempre o
bem-estar geral de sua cliente gestante e do bebê, estendendo esse cuidado aos
demais familiares, oferecendo informações na medicado possível, esclarecendo
sobre o estado de saúde da parturiente e da criança,
e tranquilizando assim a todos;
• Ser leal e apoiar incondicionalmente a gestante sem tecer
criticam ou querer fazer prevalecer sua opinião. Cuidar dela com amor,
deixando-a livre para se descobrir forte e empoderada em sua capacidade
feminina de parir.